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Cantagalo é referência como centro de documentação histórica

O município de Cantagalo tem do que se orgulhar, de seu Centro de Memória, Pesquisa e Documentação – CMPD, vinculado ao curso de licenciatura em história da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, a UNIRIO. Instalado no Polo CEDERJ desde 2010, o CMPD de Cantagalo organiza e mantém acervos documentais virtuais e bibliográficos relativos à história de Cantagalo e da região serrana fluminense. O responsável é o professor Anderson José Machado de Oliveira, igualmente coordenador do curso de pós-graduação em história e de Iniciação Científica.

Infelizmente, Cantagalo ficou à margem da historiografia do Vale do Paraíba fluminense. De acordo com a historiadora Sheila de Castro Faria, o município de Cantagalo talvez seja um dos menos conhecidos pela historiografia brasileira no que se refere a sua posição na economia cafeeira no Império. Com raras exceções, praticamente todas as pesquisas que tratam da história agrária do Vale do Paraíba, somente menciona, de passagem, a cafeicultura em Cantagalo.

O então vereador João Bôsco entre Sheila de Castro Faria e Anderson de Oliveira. Foto Amanda Tinoco
O então vereador João Bôsco entre Sheila de Castro Faria e Anderson de Oliveira. Foto Amanda Tinoco

Ainda segundo Castro Faria, em razão deste desconhecimento, na edição de um livro do suíço Johann Jakob von Tschudi(1818-1889), uma imagem da vila de Cantagalo é descrita como Nova Friburgo. Uma fotografia da princesa Isabel e comitiva foi atribuída como sendo na linha de frente na Guerra do Paraguai, quando na realidade trata-se de um registro de uma visita da princesa a Cantagalo. No entanto, com o grande avanço na implantação do Centro de Pesquisa de Cantagalo, muitos trabalhos acadêmicos começaram a despontar colocando o município no mapa da historiografia do Vale do Paraíba e da economia cafeeira no Império.

A vila de Cantagalo é descrita como Nova Friburgo. Acervo internet
A vila de Cantagalo é descrita como Nova Friburgo. Acervo internet
A princesa Isabel e comitiva em visita a Cantagalo. Acervo BN
A princesa Isabel e comitiva em visita a Cantagalo. Acervo BN

O CMPD não é uma unidade de custódia, ou seja, após os documentos históricos serem catalogados, higienizados, digitalizados e organizados são devolvidos às instituições de origem. Este núcleo conta ainda com a orientação da historiadora Sheila de Castro Faria, que doou sua biblioteca ao centro, tendo por ali passado o importante historiador João Bôsco de Paula Bon Cardoso, como coordenador local, e contou ainda com a preciosíssima contribuição do pesquisador Henrique José da Silva Bon.

O pesquisador Henrique Bon recebe homenagem da Câmara de Cantagalo. Foto Amanda Tinoco.
O pesquisador Henrique Bon recebe homenagem da Câmara de Cantagalo. Foto Amanda Tinoco.

Entrevistei o historiador Wesley da Silva Gonçalves, coordenador local do CMPD. Segundo ele, nos 14 anos de existência do centro, já foi digitalizado todo o acervo de batismos, habilitações de casamentos e óbitos da Matriz do Santuário Diocesano do Santíssimo Sacramento de Cantagalo, a partir de 1789; da Paróquia de Santa Rita do Rio Negro (Euclidelândia); uma parte do acervo cartorário e estão sendo digitalizadas as atas da Câmara de Cantagalo. Esta instituição, que administrava o município, começou a registrar suas atas em 1815, um ano depois da constituição de Cantagalo. Foram localizadas curiosidades nesta primeira fase da digitalização.

A Inteligência Artificial Transkribus já lê documentos históricos. Acervo pessoal.
A Inteligência Artificial Transkribus já lê documentos históricos. Acervo pessoal.

Em um dos primeiros ofícios da Câmara Municipal digitalizados no CMPD há o registro dos vereadores solicitando ajuda da Guarda Real para se livrarem dos indígenas Botocudos, considerados agressivos e que oprimiam os Puris, que eram aldeados. Cita ainda a presença dos Bugres e dos Coroados, estes últimos em Aldeia da Pedra (Itaocara). O CMPD promove periodicamente oficinas de paleografia para facilitar a leitura da documentação pelos pesquisadores. No entanto, Wesley Gonçalves me informou que a UFF já trabalha com o programa de Inteligência Artificial Transkribus. A utilização desta ferramenta, coordenada pelo prof. Márcio Soares, já realiza a leitura dos documentos utilizando por meio da IA, que poupará muito tempo de trabalho dos pesquisadores.

O CMPD se propõe a auxiliar os municípios vizinhos na digitalização de seu acervo, como fizeram com a Paróquia do Carmo. Afinal, os municípios circunvizinhos fizeram parte de Cantagalo. O centro de pesquisa já realizou intercâmbio com o município de Macaé, por intermédio da historiadora Conceição Franco, e estas parcerias são sempre muito bem vindas. O material digital está disponível à consulta pública e as solicitações podem ser feitas pelo email [email protected].

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