Ervas medicinais na província fluminense: como se curavam nossos antepassados

Como se curavam os nossos antepassados? No passado, a medicina era praticada por uma variedade de indivíduos como boticários, cirurgiões-barbeiros e curandeiros, já que os médicos eram escassos até o início do século 20. Os tratamentos incluíam sangrias, purgativos, infusões de plantas, dietas e outros métodos. Os cirurgiões-barbeiros, por exemplo, além de cortar cabelos e fazer barbas, realizavam sangrias, aplicavam ventosas, usavam sanguessugas, lancetavam abscessos, extraíam dentes e prescreviam pomadas e unguentos.

Em 1824, quatro anos depois da fundação da vila de Nova Friburgo, faleceu o boticário Léopold Boelle, nomeado pelo Rei D.João VI. Em razão disto foi realizado o “seqüestro” dos bens da botica que continha utensílios, drogas e trastes. Graças a este inventário podemos conhecer uma botica de Nova Friburgo e saber como nossos antepassados se curavam de suas enfermidades. Na botica havia bálsamo católico, copaíba, vinagre de chumbo, óleo de amêndoa doce, espírito de seis onças, azeite doce, espírito de casca de laranja, resina de pau santo, aguarrás, óleo de linhaça, óleo de lavanda, potassa crua, éter, óleo de canela, almíscar, óleo de rícino, óleo de hortelã, óleo de cravo, tártaro emético, sal amoníaco, ceromel(sic), sangue de dragão, sulfato de zinco, pó de Joana, azougue, cremor tártaro, sal de globo, sal amargo, oximel, pomada oxigenada, pomada mercurial, tintura de bogari composta, ácido sulfúrico, goma guta, estoraque líquido, ácido muriático, água forte, óleo de linho, pedra pomes, manganês, semente de mostarda, almíscar do Brasil, arsênico, jalapa.

Havia ainda serpentárias, pedra lipes(sic), açafrão, quentárias(sic), ácido cavalinho, coluquentes(sic), carbonato de potássio, carbonato de amoníaco, cural, pimenta do reino, água rosada, espermacete, elevo negro, enxofre em canudo, fezes de ouro, semente de Alexandria, sulfato de magnésia, raízes de genciana, poara, extrato de alcaçuz, goma de alcatifa, emplastro mercurial, almíscar de Judá, alvaide, emplastro de molioto, zarcão, sal de chumbo, calomelanos, ópio, azebre, resina de jalapa, raiz de terebintina, goma de alvão, raiz de labaça, raiz ranger, canela, manjericão e raiz de salsa da terra. Na botica foram inventariados 58 livros em língua estrangeira.
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O historiador Vinícius Maia Cardoso no seu livro “Pouco Conhecido, Montuoso e Emboscado”, contribui para conhecermos o que constava na bagagem das tropas militares nos primórdios da ocupação da região serrana na capitania fluminense. A fonte do pesquisador é o documento de 1787, “Relação dos remédios que se precisam para sortimento da botica pertencente a expedição do Canta Galo”. Na bagagem continha flores de violas, flor de sabugo, flor de papoilas, balaustrias, escabioza, tucilago, avenca, era terrestre, izopio erva, agrimenia, tragaria, raiz de funcho, de salsa ortense, parilha em pó, raiz de aipo, alcaçuz, grama, ameixas metidas em açúcar, passas de alicante, maçãs de cipreste, mortinhos, cascas de romãs, sementes frias sem casca, unguentos branco, de chumbo, de camelo e de altea.

Havia ainda na bagagem bazalicão, desopilativo, peitoral, balsamo arceo, coclearia, emplasto emoliente, aquilão menor, confortativo, estomaticão, diapalma, contra erva, esplamacete, ceroto de D.João, tinta da China, rezina de batata, óleo de amêndoas doces, água de rainha de Hungria, de milicia, elixir de Roterdam, láudano opiado, mercúrio doce, pós de Joanez, cantáridas em pó, chá bom, electuario, artocrobulico de João Cardoso, vitrelio branco, óleo de aparicio, rolos de cera, avia, orchata, lanções para o curativo, papel de França, açúcar, vinagre, aquilão gomado e aguardente de cana.
Na horta de Dona Zali em São Pedro da Serra, distrito de Nova Friburgo, encontrei recentemente uvaia, funcho, arruda, saião, hortelã, marcela branca, erva-doce, malva e erva-macaé. Trata-se de plantas que ela utiliza para incômodos e indisposições de sua família, tradição ainda cultivada na região rural dos municípios do país.
Botica doméstica no passado: a horta de dona Zali em Nova Friburgo