Galdinópolis em Nova Friburgo: entre conflitos políticos e sabores caseiros

Escondido entre as montanhas de Nova Friburgo, o pacato vilarejo de Galdinópolis guarda memórias de um passado turbulento e o charme simples da vida no campo. Pertencendo ao distrito de Lumiar, o pequeno povoado é cortado pelo rio Macaé de Cima, cujas águas alimentam modestas plantações de inhame, aipim e legumes. Em sua rua principal, o cenário bucólico revela uma escola municipal, o cemitério, o tradicional Mercado São Jorge, uma loja de ferragens e uma modesta confecção. Instalado há alguns anos nesta localidade, Renan Sopeletto é o proprietário do Cogumelos Vale Verde, empresa considerada a segunda maior produtora de substrato do Brasil onde emprega muitos moradores.

A modernidade chegou tarde a estas paragens. A energia elétrica só iluminou Galdinópolis na década de 1990, quase oitenta anos depois de chegar ao centro de Nova Friburgo. O vilarejo, que tem suas raízes nas famílias de colonos alemães Gripp, Schmidt, Faltz e Heringer, e suíços Ouverney e Bohrer, já foi palco de intensas disputas políticas. No início do século 20, duas poderosas famílias dominavam a cena local, Galdino do Vale Filho, ligado aos barões das Duas Barras, e José Galiano das Neves, de influente família mineira.

Galdino do Vale Filho iniciou sua trajetória política em 1906 à frente do jornal A Paz. Sua carreira foi marcada por múltiplos mandatos como vereador, deputado estadual e federal, além de uma breve passagem como prefeito. Em 1927, seus aliados políticos lhe renderam uma grande homenagem. Através da lei número 2.181, a localidade de Ponte Nova foi elevada a 6° distrito, com terras desmembradas do distrito de Lumiar, com o nome de Galdinópolis, terra de Galdino. Mas a glória foi breve. O atributo de distrito duraria apenas três anos.


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Na Revolução de 1930, Galdino apoiou o presidente Washington Luís, organizando a Legião Galdino do Vale. Derrotado pelos revolucionários, viu seu mandato como deputado federal ser interrompido com o fechamento do Congresso. Em 27 de outubro de 1930, o capitão Luís Braga Muri ocupa militarmente Nova Friburgo em nome das forças revolucionárias vitoriosas. Nomeia para administrar provisoriamente o município uma Junta Governativa composta por José Galiano das Neves e Carlos Alberto Braune. No ano seguinte, em 29 de janeiro, o decreto 19.398 extingue o distrito de Galdinópolis, que volta a pertencer a Lumiar.

Nas décadas seguintes, o vilarejo ficou à margem do desenvolvimento. Por teimosia, os moradores mantiveram o nome da localidade como Galdinópolis. O prefeito interventor Dante Laginestra, que administrou o município por nove anos, até 1945, nada fez pelo local, assim como seus sucessores. O acesso difícil e a falta de investimentos mantiveram esquecido, e por isto manteve sua identidade.

Atualmente, o vilarejo possui muitos sitiantes, poucos lavradores, mas mantém viva a tradição rural. No Mercado São Jorge, o senhor Vany Gripp vende fubá moído em seu antigo moinho de pedra. Anatália Nair Bohrer Faltz prepara sua famosa bananada artesanal em fogão a lenha, Cristina mantém uma oficina de ervas medicinais e Nelma produz pães e geleias caseiras. A Cogumelos Vale Verde, incentiva o cultivo de cogumelos na região e tudo é vendido no mercado São Jorge.

Entre a tranquilidade do presente e os ecos de um passado cheio de reviravoltas políticas, Galdinópolis se mantém como um testemunho vivo da história de Nova Friburgo. Um lugar onde o tempo parece passar lentamente, convidando visitantes a experimentar sabores tradicionais e respirar a paz do interior fluminense.
