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Rotas dos barões nas fazendas históricas da Região Serrana

O turismo ligado ao esporte e a história saiu do papel e ganha vida no próximo domingo, dia 14 de agosto, a partir das 8h, no Cicloturismo e Trekking “Rotas dos Barões”, no município de Cantagalo. A iniciativa do projeto “Rotas dos Barões” tem por objetivo contar a história de Cantagalo e do Brasil Império, através de rotas esportivas de Mountain Bike, Trekking (caminhada) e Trail Run. O projeto é fruto da união entre poder público municipal e empreendedores praticantes das modalidades envolvidas, como Jefferson Inácio e Leonardo Lubanco. A primeira etapa realizada será a Rota da Fazenda Sant’Anna, que para os praticantes de ciclismo estará disponível em um percurso de 30km e 40km. Já a rota para Trekking e Trail Run estará disponível em 8km e 16km.

De acordo com Leonardo Lubanco “Há muitos anos o Mountain Bike é uma modalidade forte em Cantagalo, e agora serão estimulados  também o Trail Run e o Trekking. O intuito é fomentar não somente a história da nossa região, mas inserir o contexto esportivo no cotidiano das pessoas que por aqui passarem. Criamos rotas circulares e sinalizadas dando autonomia aos praticantes para realizarem seus passeios. A “Rotas dos Barões” tem como premissa permitir que o turista possa se guiar através das sinalizações das rotas históricas, quando desejar, para realizar o cicloturismo em Cantagalo e região.”

Turismo, esporte e história na Rotas dos Barões.
Turismo, esporte e história na Rotas dos Barões.

No ano de 1809, quando o mineralogista inglês John Mawe esteve nas Novas Minas de Cantagalo, a serviço do Rei D. João VI,  já encontrou plantações de café, cujo cultivo se impõe como cultura dominante a partir da terceira década do século 19. Como se torna o principal produto de exportação, arbustos de café vão tomando paulatinamente o lugar da Mata Atlântica no “mar de morros”, característica geográfica da Região Serrana fluminense. A historiografia do vale do Paraíba fluminense no Império se concentrou em municípios como Vassouras, Valença e Paraíba do Sul, não obstante o município de Cantagalo, ignorado pelos pesquisadores, ter sido um grande produtor de café. Os agricultores por meio do cultivo de café e com a utilização de mão de obra escravizada amealharam fortuna e consequentemente construíram suntuosos sobrados, importaram mobiliário e louças da Europa e adquiriram títulos nobiliárquicos.

Na Região Serrana fluminense passaram a integrar a nobreza do Império, Augusto de Souza Brandão, 2º Barão de Cantagalo; Luiz de Souza Brandão, Barão de Porto Novo; José de Souza Brandão, Barão de Aparecida; Manoel Ferreira Pinto, 1º Barão do Carmo; José da Silva Figueiredo, 2º Barão do Carmo; Joaquim Luiz Pinheiro, Barão de Paquequer e Visconde de Pinheiro, com grandeza; José de Aquino Pinheiro, Barão de Aquino; José Antônio da Silva Freire, Barão de Dourado; José Joaquim da Silva Freire, Barão de Santa Maria Madalena; Antônio Machado Botelho Sobrinho, Barão de Macabu; Ambrósio Leitão da Cunha, Barão de Mamoré, com grandeza; Manoel Antônio Cláudio Rimes, Barão de Rimes; José Antônio de Moraes, Barão e Visconde de Imbé; João Antônio de Moraes, 1º Barão das Duas Barras; Elias Antônio de Moraes, 2º Barão das Duas Barras; Antônio Clemente Pinto, 1° Barão de Nova Friburgo, com grandeza; Bernardo Clemente Pinto Sobrinho, 2º Barão, Visconde com grandeza e Conde de Nova Friburgo; Antônio Clemente Pinto (filho), 1º Barão, Visconde com grandeza e Conde de São Clemente; Antônio Clemente Pinto (neto), 2º Barão de São Clemente.

Barão de Cantagalo proprietário da histórica Fazenda de Sant’Anna. Acervo internet
Barão de Cantagalo proprietário da histórica Fazenda de Sant’Anna. Acervo internet

A histórica Fazenda Sant’Anna do século 19, primeira da “Rotas dos Barões” era  propriedade de Augusto de Sousa Brandão, 2°Barão de Cantagalo, com uma extensão de 800 alqueires. Nos morros da propriedade foram plantados um milhão e quinhentos mil arbustos de café das espécies java, maragogipe, liberia, marta e amarelo. O descendente de colonos suíços José Monnerat arrematou-a em 1900, em leilão em praça pública doando a propriedade ao seu  sobrinho e genro Sebastião Monnerat Lutterbach. Sob a gestão de Lutterbach a Sant’Anna, além de café passou a cultivar lavoura branca e cana-de-açúcar, fabricar farinha de mandioca, fubá de milho, polvilho e em seu engenho de moenda de cana produzia rapadura, melado e aguardente. Possuía criação de gado bovino da raça indiana guzerá, carneiros e suínos da raça inglesa. Lutterbach investiu em uma fábrica de laticínios produzindo manteiga e requeijão com a marca “Fazenda Sant’Anna”. Nos dias de hoje permanece parte da histórica casa-sede e o engenho foi restaurado pelo atual proprietário Renato Monnerat.

A Fazenda Sant’Anna é a primeira do circuito Rotas dos Barões. Acervo pessoal
A Fazenda Sant’Anna é a primeira do circuito Rotas dos Barões. Acervo pessoal

Antônio Clemente Pinto, 1° Barão de Nova Friburgo foi o mais rico fazendeiro de Cantagalo e possivelmente do Império. A sua grande obra foi a Estrada de Ferro Cantagalo, construção iniciada em 1859 desde a estação de Maruí, em Niterói, até alcançar suas fazendas em Cantagalo. Antônio Clemente Pinto iniciou o garimpo de ouro nos rios deste município na década de 1820 e a seguir direcionou sua atividade econômica para o cultivo e comercialização de café. O barão era também identificado como fazendeiro-capitalista, já que emprestava dinheiro a juros aos agricultores. A sua fortuna advém notadamente do tráfico de escravos. Antônio Clemente Pinto consta na listagem de traficantes de escravos no Atlântico entre a costa africana e a cidade do Rio de Janeiro, no período de 1811 e 1830. O 1°Barão era proprietário das fazendas Gavião, Areas, Santa Rita, Aldeia, Cafés, Macapá, Boa Vista, Boa Sorte, Jacotinga, Mataporcos, Itaoca, Laranjeiras, Água Quente e Boa Fé, as duas últimas em sociedade com o holandês Jacob Van Erven. Em Nova Friburgo possuía a fazenda de São Lourenço, a fazenda do Cônego, a chácara do Chalet no Parque São Clemente, o chalé de caça com imensa mata(atual Sanatório Naval) entre outros imóveis. A Fazenda Gavião foi projeto do arquiteto alemão Karl Frederich Gustave Waehnelt, cuja sede foi edificada no início da década de 1860, mesmo período da construção do Palácio Nova Friburgo no Rio de Janeiro, que passa a ser residência da família. Este majestosíssimo palacete vendido a União foi residência oficial do presidente da República, conhecido como Palácio do Catete, atualmente Museu da República.

Filhos do Barão de Nova Friburgo (esquerda) e Barão de Mamoré se casam. Acervo internet
Filhos do Barão de Nova Friburgo (esquerda) e Barão de Mamoré se casam. Acervo internet

João Antônio de Moraes, 1° Barão das Duas Barras acumulou um imenso patrimônio igualmente com plantio de café e tudo indica que o número extraordinário de fazendas que adquiriu foi resultado de sua atividade usurária emprestando dinheiro a juros. A diversificação dos negócios coloca João Antônio de Moraes também entre os denominados fazendeiros-capitalistas. Além da fazenda Santa Maria do Rio Grande, berço dos Moraes, possuía as propriedades rurais Macabu, Barra, Bonança, Boa Esperança, Canteiro, Coqueiro, Córrego Alto, Engenho da Serra, Engenho Velho, Freijão, Glória, Grama, Monte Café, Neves, Olaria, Paraíso, Ribeirão Dourado, Rio São João (em Minas Gerais), Sant’Alda, São Lourenço e Sobrado. As estratégias matrimoniais com a construção de alianças através do casamento foram utilizadas pelos Moraes. Casaram-se primos-irmãos com o objetivo de fortalecer os laços de parentesco e de garantir o controle sobre os negócios da família.

João Antônio de Moraes, 1° Barão das Duas Barras. Acervo pessoal
João Antônio de Moraes, 1° Barão das Duas Barras. Acervo pessoal

José de Aquino Pinheiro, o Barão de Aquino nasceu na Fazenda do Ribeirão, hoje em Duas Barras, que na ocasião fazia parte de Cantagalo. Seu pai, o tenente-coronel Joaquim Luiz Pinheiro, de origem portuguesa recebeu o título de Barão do Paquequer e depois Visconde de Pinheiro. Em uma de suas fazendas, a Santa Mônica, no município de Sumidouro, passava o mais belo trecho da linha férrea fluminense, o ramal da Ponte Seca, projetado por engenheiros ingleses da Leopoldina Railway Company. O Barão de Aquino além da Santa Mônica era proprietário das fazendas Santa Maria, Areias(em Pirapitinga) e Conceição do Pinheiro, em Duas Barras. Como toda elite fazendeira da época exerceu os cargos de delegado de polícia, juiz municipal, vereador e juiz de paz. Este é o registro de alguns barões em cujas fazendas passará o circuito turístico.

A Fazenda Conceição do Pinheiro pertenceu ao Barão de Aquino. Acervo pessoal 
A Fazenda Conceição do Pinheiro pertenceu ao Barão de Aquino. Acervo pessoal

A Fazenda Sant’Anna abrirá as suas portas no próximo domingo para os participantes da “Rotas dos Barões”, com um café da manhã. Além desta, outras rotas estão sendo criadas e serão estabelecidas como caminhos circulares, bem sinalizadas, para que o esportista possa praticar a modalidade desejada e conhecer a história da região. Para participar o investimento é no valor de R$22,00, que inclui café da manhã na fazenda e brindes dos patrocinadores para os 100 primeiros inscritos. Maiores informações e inscrições no site www.rotasdosbaroes.com.br.


Janaína Botelho – Serra News

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