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Turismo Rural na histórica Fazenda Penedo em Duas Barras

Visitei a Fazenda Penedo em Duas Barras da simpática e acolhedora família Araújo, proprietária do histórico imóvel. Na realidade não foi tão somente uma visita, mas sim o início de um projeto em parceria com o portal de notícias Serra News, que conta com o apoio da Prefeitura Municipal de Duas Barras. Trata-se de um documentário para contar a história da fazenda Penedo e mostrar como funciona o sistema “day use” numa agradável atmosfera do século dezenove. A casa de vivenda da fazenda Penedo em estilo neoclássico foi construída em 1881 pela família Pinheiro, cujo patriarca recebeu o título de barão de Aquino. A propriedade originalmente possuía 250 alqueires, e como toda unidade de produção do vale do Paraíba fluminense, se dedicava ao cultivo de café fazendo uso do trabalho de africanos escravizados. Há no inventário da família o registro de pratarias e porcelanas trazidas da Europa, comprovando a adoção do estilo de vida europeizado dos primeiros moradores.

Cinegrafista Noé grava documentário produzido pelo portal de notícias Serranews. Acervo pessoal
Cinegrafista Noé grava documentário produzido pelo portal de notícias Serra News.

O fim do trabalho escravo e o desgaste da terra tornando os arbustos de café improdutivos teria ocasionado o declínio financeiro da família Pinheiro. Em 1922 a fazenda já pertencia ao capitão José Monnerat Junior. Os Monnerat são imigrantes suíços que se instalaram no Núcleo Colonial de Nova Friburgo no início do século 19. François Xavier Monnerat imigrou para o Brasil com a esposa e sete filhos se dedicando à lavoura e os filhos trabalhando também como tropeiros, com tropa própria. Em novembro de 1837, dezessete anos apenas após a sua chegada à vila de Nova Friburgo, já temos registro dos Monnerat adquirindo diversas fazendas em Cantagalo. Na administração de José Monnerat Junior na fazenda Penedo, a produção anual de café atingiu a duas mil arrobas. Além do café, principal atividade econômica da propriedade, plantava-se milho, arroz, cana-de-açúcar para a fabricação de rapadura e cachaça, cujo excedente era comercializado na localidade. Possuía engenhos de cana e de serra movidos pela força motora hidráulica.

O turismo rural é incentivado pela prefeitura de Duas Barras. Acervo pessoal
O turismo rural é incentivado pela Prefeitura de Duas Barras. Acervo pessoal

Existe ainda o registro de criação de gado no qual algumas propriedades rurais da região já haviam migrado a partir do último quartel do século 19.  Possivelmente devido à perda da visão do capitão José Monnerat, a fazenda foi vendida em 1924 a José Araújo de Barros. Natural de Portugal, da Ilha da Madeira, imigrou como colono pobre juntamente com o irmão para o Brasil no final do século 19, se estabelecendo em Cantagalo. Casou-se com Maria Araújo Faria e tiveram quinze filhos. Depois de três décadas estabelecido no Brasil, mais precisamente em Cantagalo, o colono José Araújo de Barros que chegou sem um vintém no bolso, assim como os Monnerat, conseguiu fazer fortuna. Quando adquiriu a Penedo já possuía cinco outras fazendas. A Fazenda Penedo foi transmitida por herança a um de seus filhos, Manoel Araújo de Barros e na sucessão ao seu neto Roberto de Melo Araújo, atual proprietário. Na gestão de Manoel Araújo a fazenda foi gradativamente deixando de plantar café e migrando para a criação de gado leiteiro. Quando José Araújo de Barros adquiriu a fazenda dos Monnerat ainda possuía 250 alqueires. Porém, na sucessão hereditária foi se desmembrando. O pai de Roberto ficou com100 alqueires e hoje a Penedo possui 44 alqueires.

A Penedo fabrica a cachaça em todo processo de produção. Acervo pessoal
A Penedo fabrica a cachaça em todo processo de produção. Acervo pessoal

Roberto e Matheus de Araújo, pai e filho, estão em uma nova empreitada na fazenda Penedo com a fabricação de cachaça, ficando a produção de leite como atividade secundária. Fabricam o destilado em todo o seu processo de produção. Isto é importante destacar pois muitas propriedades rurais adquirem o destilado bruto de terceiros e somente finalizam no processo. De acordo com Matheus Araújo trabalham com vários tipos de barris de madeira no envelhecimento da cachaça sendo que cada uma delas dá ao destilado uma característica particular. Assim como fazem os melhores produtores de cachaça utilizam o carvalho francês, a amburana, o jequitibá rosa e o bálsamo. Existe na Penedo uma edição especial de cachaça descansada há 18 anos em barril de peroba do campo. Além dos destilados envelhecidos em madeiras nobres existem outras linhas de produtos. Fabricam e comercializam cachaças onde são adicionadas frutas naturais e especiarias, possuem a linha “Bendita Cana” e fabricam vodca feita com cana-de-açúcar e cereais não maltados penta destilada, passando cinco vezes pelo filtro. A linha “Bendita Cana” consiste em cachaças onde são adicionados aromatizantes a exemplo de amendoim, côco, milho, morango, blue ice, brigadeiro, chiclete, chocolate, entre outros. Na realidade é a conhecida “batida” já pronta.

À direita, o cachacista Matheus de Araújo. Acervo pessoal
À direita, o cachacista Matheus de Araújo. Acervo pessoal

No “day use” da Fazenda Penedo as pessoas podem passar o dia, fazer uma visita guiada a casa sede, percorrer trilhas, almoçar ou tão somente comer os saborosos petiscos experimentando sua deliciosa cachaça, tudo isto vivenciando o ambiente de uma fazenda histórica. Existe área de lazer para crianças. Está aberta todos os finais de semana e feriados, das 10:00 às 17:00 horas.

Janaína Botelho – Serra News

Documentários da historiadora Janaína Botelho no Serra News

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