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Egito: dicas para quem deseja viajar ao berço da civilização

Viajei para o Egito uma semana depois que Israel iniciou o bombardeamento na faixa da Gaza. O medo que o conflito entre os Estados de Israel e a Palestina escalonasse para um conflito mundial era imenso. O Egito tem fronteira com a faixa de Gaza. Mas resolvi manter a minha viagem e parti para conhecer uma das mais antigas civilizações do mundo. O berço de nossa história. Viajei através da agência egípcia Starday Tour e o meu contato foi com o funcionário chamado Sherif. Durante toda a viagem fiquei acompanhada por um guia desta agência que falava português. No Cairo, a primeira visita foi as pirâmide de Quéops, Quéfren e Miquerinos localizadas em Giza, subúrbio da cidade. Muitas outras maravilhas viriam na sequência.

O Exército possui um setor que dá proteção a todas as áreas de circulação de turistas.
O Exército possui um setor que dá proteção a todas as áreas de circulação de turistas.

Um voo até Aswan e a partir de então viajando pelo rio Nilo visitei os templos de Ramsés II, da deusa Isis, de Abu Simbel, de Edfu, Luxor, Karnak, da rainha Hatshipsut e kom Ombo. Visitei ainda o Vale dos Reis e Colossos de Memnoun. Todas estas maravilhas podem ser conhecidas em documentários no youtube e por isto gostaria de utilizar este artigo somente para descrever minhas impressões da viagem. O governo é uma ditadura militar, com boas relações com a Rússia e a China. Consequentemente detestam os Estados Unidos. O Cairo tem um trânsito caótico e o que mais surpreende é que carroças de burros vendendo mangas, cebolas, etc. circulam entre os veículos, entre eles o tuc tuc. À exceção dos hotéis, não vemos edifícios de arquitetura moderna, mas na periferia condomínios de classe média e alta vêm sendo construídos para distribuir a população do Cairo. O país é de maioria muçulmana, com poucos cristãos que são conhecidos como coptas. Logo que cheguei o guia me disse que eu poderia andar à vontade, usar a roupa que desejasse pois respeitam a maneira pela qual as mulheres ocidentais se vestem, diferentemente de outros países muçulmanos.

O Egito tem 95% de seu território coberto pelo deserto. Na foto o deserto branco.
O Egito tem 95% de seu território coberto pelo deserto. Na foto o deserto branco.

No Egito desperta-se sempre com dias ensolarados. Chove levemente 2 ou 3 dias ao ano. Isto mesmo, não sabem o que é um temporal. A água que abastece o país vem do rio Nilo. O seu território é coberto 95% pelo deserto, o verão é muito quente e por isto recomenda-se o turismo nos meses de outubro e novembro. Com relação às compras, o guia me alertou que neste país nada tem preço fixo, tudo é negociado. O vendedor pede um valor pela mercadoria e cabe ao comprador baixar ao máximo o preço, negociando sempre. Se ele não baixar devolva a mercadoria, vá embora, que ele vai atrás de você e fecha o negócio. É assim com tudo, até mesmo com o taxi. Haja paciência. Mas com o tempo a gente se acostuma e acha divertido o exercício da negociação.

No Egito nada tem preço fixo, tudo é negociado.
No Egito nada tem preço fixo, tudo é negociado.

A comida é muito temperada. Até mesmo o arroz leva condimentos variados. Eu amei, mas desagradou a outros. Achei muito saudável a sua alimentação, pois comem muitos legumes como beringela que é feita de variadas formas, abobrinha, fazem muito uso de pepino, cebola, tomate, pimentão e rúcula. A kafta é muito consumida, assim como carne de carneiro, seguido de camelo, frango e até pombo. Usa-se muito o mel na alimentação e comprei o mel negro, produzido no deserto. Naquele constante calor andando pelas ruas sente-se vontade de tomar uma cerveja. Mas ninguém vende este precioso produto no comércio local. Se encontrar cerveja é sem álcool, de gosto frutado. Experimentei e achei enjoativa. Apenas nos hotéis podemos encontrar cerveja Stella e vinho de cepas syrah e cabernet sauvignon produzidos no próprio Egito e de boa qualidade. Tomam muito chá gelado de hibisco, que percebi ser sua bebida favorita. É costume fumarem shisha nos cafés e logo após as refeições.

Quando se apresenta o Egito logo vêm imagens de pirâmides, tumbas e templos. Mas o deserto é algo fascinante. Coloquei no meu pacote uma noite no deserto branco, no oásis de Bahariya. Imaginei que fossem bangalôs construídos à margem da estrada e a agência vendia um acampamento fake para criar no turista a sensação de dormir no deserto. Pediram para levar o mínimo de pertences. Levei um vestido para usar no jantar que haveria à noite e uma necessaire de maquiagem para ficar bem na fita. Éramos eu, o guia, o motorista e um casal de turistas. Depois de 7 horas de viagem, o motorista em dado momento saiu da estrada e entrou nas areias do deserto. O carro ainda que apropriado para trafegar na areia dava cada sacudidela, devido a irregularidade do solo, que amedrontava. Depois de 15 minutos circulando no deserto paramos em determinado local, em frente a uma tenda. O motorista nos disse que acamparíamos ali. Eu realmente iria dormir no deserto e não na versão fake que imaginava. Fiquei com a mesma roupa e acampamos. O motorista nos preparou uma deliciosa refeição e comemos à moda árabe e beduína. Foi uma noite mágica e inesquecível no deserto. Chama-se deserto branco porque existem em diversos pontos rochas calcárias claras que sob a luz do sol ou da lua geram luminosidade no local, deduzo eu. No dia seguinte partimos, após um delicioso café da manhã.

Deserto branco onde passei uma noite no oásis de Bahariya.
Deserto branco onde passei uma noite no oásis de Bahariya.

Outra coisa que me deixou encantada foi conhecer a aldeia Núbia. Trata-se de uma etnia africana subjugada desde o tempo dos faraós. Chega-se a aldeia de barco pelo rio Nilo. No roteiro havia uma visita na residência de um morador local onde somos recebidos pela família. O colorido dos desenhos nas paredes são belíssimos e me impressionou muito. Não me lembrei de perguntar como obtinham aquelas cores, pois tinta não era. O senhor da casa nos mostrou seus dois crocodilos que ficam numa “caixa” de alvenaria com uma grade de ferro por cima. Eles são considerados os deuses dos núbios e protegem o seu lar. Que pavor. A gente finge que isso é normal. Nos serviram doce de gergelim, “pão de lua” feito como na época dos faraós, pão árabe, melado, uma pasta que parecia ser gergelim azedo e chá de menta. O artesanato é muito colorido com tapetes, máscaras e mandalas de variadas estampas.

Na aldeia Nubia os turistas sao recebidos por um morador local
Na aldeia Núbia os turistas são recebidos por um morador local.

O Egito é um vasto sítio arqueológico. Em escavações de obras se descobrem preciosidades e muitas delas vendidas no mercado negro até hoje, segundo o guia. No século 19 este país foi espoliado pelos governos francês, alemão e inglês que se apropriaram de obeliscos, estátuas, múmias, etc. Muitas das preciosidades do Egito na Antiguidade estão nos museus destes países. O obelisco do Templo de Luxor está na Praça da Concórdia, em Paris; o busto da rainha Nefertiti está em Berlim e a Pedra de Roseta está no Museu Britânico. Até D. Pedro II no Brasil Império amealhou muitas peças em suas duas viagens ao Egito. Havia no Museu Nacional um acervo 700 peças da civilização egípcia, entre múmias humanas, artefatos, amuletos, sarcófagos, etc., tudo destruído pelo incêndio em setembro de 2018. Até o industrial Julius Arp, que instalou indústrias têxteis em Nova Friburgo possuía um gato egípcio de mais de 2.500 anos.

Museu do Cairo. Um novo museu, três vezes maior será inaugurado nos próximos anos.
Museu do Cairo. Um novo museu, três vezes maior será inaugurado nos próximos anos.

O encontro com a população da mais antiga civilização é fascinante. Os egípcios são simpáticos e espirituosos. Existem muitos tabus em relação ao Egito, notadamente de ser perigoso para o turismo, mas não é verdade. O Exército do país possui um setor que dá proteção a todas as áreas de circulação de turistas e por isto é considerado seguro. Faz-se boa parte do deslocamento aos monumentos históricos por meio de barco pelo rio Nilo. Existe uma logística de visitas aos templos, ao vale dos reis, etc. que envolve a partida do barco, o melhor horário para evitar o calor escaldante, e por isto viajar através de uma agência é fundamental.

Navegação pelo rio Nilo e ao fundo túmulos de um cemitério local na aldeia Núbia.
Navegação pelo rio Nilo e ao fundo túmulos de um cemitério local na aldeia Núbia.

Para finalizar, algo curioso e divertido é que os egípcios não gostam da Cleópatra, imortalizada por Holywood. Isto eu já imaginava porque ela não era egípcia, e sim grega, da linhagem ptolomaica que ocupou o Egito a partir do falecimento de Alexandre, o Grande. Eles cultuam mesmo é a rainha-faraó Hatshepsut que reinou durante 22 anos trazendo prosperidade ao povo. A história do Egito se imbrica com a de antigos impérios. Além dos templos gregos deixados por Alexandre, o Grande, a ocupação do império romano e a seguir otomano igualmente deixaram vestígios neste país. Leva-se duas semanas para conhecer um pouco sobre o Egito e uma eternidade para apreciá-lo.

O templo de Ramsés II em várias fases de sua vida, um dos monumentos mais visitados.
O templo de Ramsés II em várias fases de sua vida, um dos monumentos mais visitados.

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