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Cantagalense foi o criador do Bondinho do Pão de Açúcar

O Bondinho do Pão de Açúcar completa 110 anos neste 27 de outubro de 2022 e o Serra News conta um detalhe interessante sobre sua criação. Augusto Ferreira Ramos: esse é o nome do engenheiro visionário nascido em Cantagalo (1860-1939), na Região Serrana do Rio, responsável pela criação do Bondinho do Pão de Açúcar; seis anos antes de Cantagalo também se tornar berço do escritor Euclydes da Cunha.

Tudo começou em 1908, nas festas de comemoração dos 100 anos da abertura dos portos cariocas por Dom João VI. O engenheiro cantagalense Augusto Ferreira Ramos teve a ideia de construir um ‘caminho aéreo’ entre os morros da Baía de Guanabara para alavancar o turismo no Rio de Janeiro. Ao conseguir capital e apoio do governo, ele fundou a Cia. Caminho Aéreo Pão de Açúcar, a mesma que administra o bondinho até hoje.

Na época, o projeto era bastante ousado, só existiam dois teleféricos no mundo: o do Monte Ulia, na Espanha, com extensão de 280 metros, e o de Wetterhorn, na Suíça, com 560 metros. Ambos ficariam no chinelo diante do Pão de Açúcar, cujas duas linhas somam 1.325 metros. As obras começaram em 1910 e o empreendimento consumiu mais de dois anos, centenas de operários e dois milhões de contos de réis – uma fortuna.

O engenheiro Augusto Ferreira Ramos, antigo sócio do Clube de Engenharia, projetou e construiu um "caminho aéreo" entre os morros da Baía de Guanabara para alavancar o turismo no Rio de Janeiro.
O engenheiro Augusto Ferreira Ramos projetou e construiu um “caminho aéreo” entre os morros da Baía de Guanabara para alavancar o turismo no Rio de Janeiro. (Acervo Jornal O Globo)

O primeiro trecho, ligando a Praia Vermelha ao Morro da Urca, foi inaugurado em 27 de outubro de 1912. O segundo, da Urca ao Pão de Açúcar, foi completado no ano seguinte. “Como não havia helicópteros, a construção utilizou equipes de alpinistas especialmente treinados, que levavam as peças nas costas, em escaladas perigosas”, disse certa vez Giuseppe Pellegrini, diretor técnico da Companhia.

Conforme publicou o Jornal O Globo, “Augusto Ferreira Ramos era daquelas pessoas com currículo tão extenso que parece ter tido duas vidas”. E a ousadia, que logo caiu no agrado popular, principalmente da alta sociedade carioca da época, início do século XX, se tornou concreta e um dos pontos turísticos mais conhecidos e visitados do mundo, traduzidos num teleférico instalado no Morro da Urca e inaugurado em 27 de outubro de 1912.

O bondinho original, inaugurado em 1912, só foi modernizado em 1972. (Acervo Jornal O Globo)

Em 1970, o velho bondinho já não dava conta do intenso tráfego turístico. Por isso, foi construída outra linha, mais segura, com novos cabos, estações e carros, multiplicando por dez a capacidade de transporte. Dessa vez, o bondinho antigo deu uma ajuda considerável como elevador de peças, dispensando o perigoso e extenuante trabalho dos pioneiros alpinistas. A nova linha foi inaugurada em 1972 e, com algumas reformas, continua operando até hoje.

Escalada engenhosa

Inaugurado em 27/10/1912 o trecho inicial do percurso que ligava a Praia Vermelha e o Morro da Urca. (Acervo da Biblioteca Nacional)

Tudo começou com uma equipe de mais de 100 operários-alpinistas escalando o morro para levar as cordas e as peças de um guincho manual desmontável – ao todo, quatro toneladas de equipamentos. Os ganchos que eles fincaram pelo caminho para ajudar na subida estão lá até hoje. Outra equipe seguiu pela floresta até a base do morro, arrastando um cabo de aço.

Uma vez no alto, os alpinistas montaram o tal guincho e, com uma corda, puxaram a ponta do pesado cabo de aço na base do morro. Estava pronto um minibondinho: na verdade, um elevador de carga que serviria para carregar todas as outras peças para a montagem da estação.

Centenas de operários já podiam começar a construção das estações, o trabalho que consumiu mais tempo. Por fim, os dois bondinhos, feitos na Alemanha, de madeira maciça, foram içados para o seu lugar em cabos de aço, por meio de guindastes. Esses primeiros carros eram chamados de Camarotes Carril e levavam até 24 pessoas.

Em 1972, o bondinho antigo, aos 60 anos, desce pela última vez o Pão de Açúcar. (Acervo O Globo)
Em 1972, o bondinho antigo, aos 60 anos, desce pela última vez o Pão de Açúcar. (Acervo O Globo)

Nos dias atuais

Hoje, a visão dos bondinhos, no seu constante vaivém, está incorporada à paisagem carioca. No Pão de Açúcar atualmente funcionam dois sistemas teleféricos independentes, classificados como de grande porte, com dois bondinhos em cada linha. O novo sistema, instalado em 1972, aumentou a capacidade de transporte do teleférico de 115 para 1.360 passageiros por hora.

Os bondinhos rolam ao longo de dois cabos-trilho de aço, fixos nas estações, com 50 mm de diâmetro cada, constituídos por 192 fios de aço enrolados e são tracionados por um cabo de tração de 24mm de diâmetro. O movimento é gerado na estação motriz por um motor elétrico.

Eles podem transportar até 65 passageiros em cada viagem, que sai de 20 em 20 minutos, e é o único no mundo com as faces laterais totalmente transparentes devido ao acrílico e policarbonato utilizado, plexi glass, de tecnologia de aviação.

Bondinho-do-Pao-de-Acucar - Rota Cult
O Parque Bondinho Pão de Açúcar recebeu cerca de 50 milhões de visitantes até 2022. (Acervo Rota Cult)

A velocidade é regulável, chegando a 6 m/s no primeiro percurso – Praia Vermelha/Morro da Urca – e a 10 m/s no trajeto entre os altos do Morro da Urca e Pão de Açúcar, percorrendo-se cada estágio em apenas 3 minutos. Suas seis rodas laterais têm como função permitir uma entrada mais suave nas guias das estações.

O desenho dos bondinhos inaugurados em 1972, medindo 6,00 x 3,00 m, em forma de bolha, com estrutura em duralumínio, é exclusivo do Pão de Açúcar, idealizado pela firma italiana Nardo, e premiado no 4º Salão de Montanha em Turim, em 1971.

Cantagalense de visão

O projeto do caminho aéreo conquistou a alta sociedade, mas foi um espanto no Rio de Janeiro do início do século XX. As más línguas chegaram a insinuar que ele deveria fazer um bondinho até o Hospício Nacional, que funcionava no atual campus da UFRJ. Nada abalou Augusto Ramos, formado em engenharia civil pela Escola Politécnica do Rio de Janeiro e, desde 1894, professor da mesma instituição em São Paulo.

Augusto Ferreira Ramos, nascido em Cantagalo, RJ, em 1860. Um engenheiro visionário taxado como ‘louco’, que criou o Bondinho do Pão de Açúcar.

Augusto Ramos atuou em diferentes frentes na virada do século XIX: no ramo do café, como autor de importantes escritos sobre o seu cultivo e comercialização; na construção de usina de açúcar, de fábricas de cimento e papel, de uma hidrelétrica no Vale do Itapemirim, e de uma das primeiras estradas de ferro elétricas do país, no Espírito Santo; na retificação de trechos do Vale do Rio Paraíba, na Bahia; e em obras de saneamento em Curitiba e Vitória.

O projeto, grandioso, caminhava na direção das intensas transformações da cidade no começo do século XX na gestão do prefeito Pereira Passos, entre 1903 e 1906.O Rio vivia uma efervescência cultural, econômica e política. Depois de sua grande obra, que mudaria de vez a paisagem do Rio, Augusto Ramos escreveu, em 1923, o tratado “O café no Brasil e no estrangeiro”, obra comemorativa do 1º centenário da Independência do Brasil. Antes, ele já havia publicado, pela Secretaria de Agricultura paulista, o relatório “A indústria cafeeira na América Espanhola”.

Augusto Ferreira Ramos, inventor do Bondinho Pão de Açúcar, teve um papel fundamental, traçando políticas para o café numa época de intensa crise. O engenheiro visionário e generalista morreu em 1939. Em 1934, Carlos Pinto Monteiro assumiu o bondinho e, em 1962, foi a vez de Cristóvão Leite de Castro, pai da atual diretora, Maria Ercília Leite de Castro.

Estátua Engenheiro Cristóvão Leite de Castro ao lado da segunda geração de bondinho. (Acervo de apureguria.com)
Estátua engenheiro Cristóvão Leite de Castro ao lado da segunda geração de bondinho. (Acervo de apureguria.com)

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