A história se apaga em Cantagalo: Palacete do Gavião à beira do colapso

O Palacete do Gavião, um dos mais importantes símbolos do ciclo do café no Brasil, vive um acelerado processo de deterioração que ameaça apagar parte da história de Cantagalo. Construído no século 19 pelo barão de Nova Friburgo, Antônio Clemente Pinto, o imóvel marcou o auge econômico da região, mas hoje enfrenta o abandono e a ação do tempo.

Erguido para ser uma residência imponente e distinta das tradicionais casas-sede de fazendas, o palacete teve seu projeto original assinado pelo arquiteto alemão Karl Frederich Gustave Waehneldt. Mesmo incompleto após a morte do barão, manteve sua imponência arquitetônica, que chegou a impressionar a elite imperial. Porém, a falta de preservação tem colocado em risco estruturas, detalhes artísticos e elementos históricos que resistiram por mais de um século.

O local foi palco de momentos marcantes, como a visita do imperador Dom Pedro II e da imperatriz Teresa Cristina, em 1883, e recebeu personalidades como o escritor português Ramalho Ortigão. Esses registros reforçam a relevância cultural e histórica do palacete, que já foi comparado às grandes propriedades rurais do período cafeeiro. Hoje, porém, vestígios dessa grandiosidade desaparecem a cada ano.

Desde meados do século 20, reportagens já alertavam para a degradação do imóvel, mencionando ruínas, peças artísticas danificadas, perda de acervo e até correntes e grilhões que revelavam o passado escravocrata. O que antes era um símbolo de riqueza e poder tornou-se um retrato silencioso do abandono do patrimônio cultural brasileiro.

Sem políticas de preservação e com dificuldades de manutenção relatadas pelo atual proprietário, o Palacete do Gavião corre o risco de ruir definitivamente. A cada pedaço que desaba e a cada detalhe artístico perdido, parte da memória de Cantagalo e do ciclo do café no país se desfaz – um patrimônio que, se não for resgatado agora, desaparecerá para sempre.

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