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Moradores levam cerca de 50 corpos para praça na Penha após megaoperação no Rio

Moradores do Complexo da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, levaram ao menos 50 corpos para a Praça São Lucas, na Estrada José Rucas, na madrugada de quarta-feira (29/10), um dia após a megaoperação no Rio, conhecida como Operação Contenção, que se tornou a mais letal da história do estado. Os corpos foram deixados no local em protesto e para cobrar esclarecimentos das autoridades.

O Governo do Rio informou na terça-feira (28) que 60 suspeitos morreram na ação nos complexos da Penha e do Alemão, além de quatro policiais, evidenciando o alto nível de letalidade policial. Nesta quarta, o secretário da PM, coronel Marcelo de Menezes Nogueira, afirmou que, a princípio, os corpos levados à praça não estão incluídos na contagem oficial.

Uma perícia vai apurar se as mortes têm relação com a operação. Caso sejam contabilizadas, o número pode ultrapassar 100 mortos. Moradores dizem que os corpos estavam na mata da Vacaria, na Serra da Misericórdia, foco dos confrontos. Há relatos de mais cadáveres no alto do morro.

A Polícia Civil informou que o reconhecimento será feito no prédio do Detran ao lado do IML, a partir das 8h. O acesso ao IML ficará restrito à Polícia Civil e ao Ministério Público. Necropsias sem relação com a operação serão feitas no IML de Niterói.

Entidades criticam operação

Organizações de direitos humanos criticaram a Operação Contenção, que deixou ao menos 64 mortos, e cobraram explicações sobre a letalidade da ação. A Comissão de Direitos Humanos da Alerj e a OAB-RJ disseram acompanhar o caso com “extrema preocupação” e pediram transparência nas investigações.

A deputada Dani Monteiro (PSOL) afirmou que “nenhuma política de segurança pode se sustentar sobre um banho de sangue”. O presidente da OAB-RJ, Sidney Guerra, destacou que a segurança deve ser exercida dentro dos limites do Estado Democrático de Direito.

ONU critica ação

O Escritório de Direitos Humanos da ONU afirmou no X estar “horrorizado” com a megaoperação no Rio e cobrou investigações rápidas e eficazes. O órgão disse que a ação reforça o padrão de letalidade policial em comunidades marginalizadas.

César Muñoz, diretor da Human Rights Watch no Brasil, classificou o episódio como “enorme tragédia” e pediu ao Ministério Público a apuração de cada morte, incluindo a de moradores e policiais.

Quatro policiais mortos

Quatro policiais morreram na operação: dois da Polícia Civil e dois do Bope. Os agentes civis Marcus Vinícius Cardoso, o Máskara (51), e Rodrigo Velloso Cabral (34) foram baleados na entrada das equipes no Complexo da Penha. Os sargentos Cleiton Serafim (42) e Heber Fonseca (39) foram atingidos durante o avanço pelo Complexo do Alemão. Todos foram socorridos, mas não resistiram.

Marcus tinha 26 anos de carreira e havia sido promovido a comissário na véspera. Rodrigo estava há 40 dias na corporação. Cleiton era especialista em apoio tático e deixa esposa e filha. Heber, atirador de precisão, deixa esposa, dois filhos e um enteado.

Repercussão internacional

A operação ganhou destaque na imprensa mundial. O The Guardian classificou o episódio como “o pior dia de violência da história do Rio” e destacou o uso inédito de drones com explosivos pelo Comando Vermelho, além de 93 fuzis apreendidos e mais de 80 presos.

O Financial Times apontou que a ação evidencia o avanço do crime organizado e o impacto do aumento do consumo de cocaína no exterior. O New York Times ressaltou o uso do termo “narcoterroristas” pelo governador Cláudio Castro e os reflexos na cidade, como bloqueios, aulas suspensas e vias fechadas. O espanhol El País afirmou que a violência chocou até moradores habituados aos confrontos e lembrou que a polícia brasileira está entre as mais letais do mundo.

STF cobra explicações

O ministro Alexandre de Moraes, do STF, deu 24 horas para que a PGR se manifeste sobre o pedido do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) para que o governador Cláudio Castro explique a Operação Contenção. O CNDH quer o relatório da ação, sua justificativa e informações sobre socorro às vítimas e responsabilização de agentes.

A decisão foi tomada no âmbito da ADPF das Favelas, que determina regras para reduzir a letalidade policial no Rio. Moraes assumiu decisões urgentes após a aposentadoria do ex-relator Luís Roberto Barroso. Em abril, o STF já havia fixado normas para operações policiais nas comunidades do estado.

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