Omissão? Câmara de Cordeiro é acusada de favorecer investigados por fraudes na Exposição

Em Cordeiro, a Câmara Municipal tem sido alvo de críticas por atuar mais como aliada do Poder Executivo do que como órgão fiscalizador. Vereadores eleitos para defender os interesses da população e garantir a transparência das ações públicas são apontados como omissos diante de possíveis irregularidades graves.
Entre os casos mais polêmicos estão os inquéritos do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) sobre a organização da Exposição Agropecuária de Cordeiro. Há suspeitas de que articulações dentro do Legislativo favoreceram investigados, incluindo um vereador réu, e membros do Executivo, como o prefeito, em processos ligados a supostas ilegalidades.
Processos “segurados” na Câmara
Desde que assumiu uma cadeira na Câmara, após o afastamento de um vereador investigado, a vereadora Fabiola Bianchini denunciou suposta omissão na condução das investigações. Ela sugere que procedimentos internos poderiam ter sido manipulados, beneficiando os investigados.
Falas e registros da vereadora Bianchini, indicam que a Câmara se manteve omissa diante das denúncias do Ministério Público, sem transparência ou medidas para aprofundar a apuração. A parlamentar chegou a ingressar com mandado de segurança após passar cinco meses sem assessor e um mês sem gabinete. Em junho, a juíza Samara Freitas Cesário determinou a imediata nomeação do assessor, sob pena de multa diária, reconhecendo a ilegalidade da omissão e indícios de perseguição política.
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Apesar de decisões judiciais, o vereador afastado, Matheus Mattos, continua sendo investigado pelo Judiciário. O processo n.º 0800177-92.2025.8.19.0019, aponta esquema de contratações fraudulentas envolvendo empresa de fachada, com participação de seu pai, então assessor jurídico do município, que atuou como fiador de contrato usado pela empresa contratada.
Bianchini afirma que a Câmara em seu relatório arquivou o processo administrativo do vereador, sem seguir o Decreto Municipal n⁰ 11/2013, não colocando para plenário e só dando informações através de requerimentos e ignorando procedimentos que poderiam gerar novas investigações. A vereadora segue cobrando atuação do MPRJ para garantir transparência nos processos relacionados ao evento.
Neste mesmo relatório, a Comissão de Ética da Câmara Municipal afirma que não teriam provas, e que esperariam pela manifestação do Judiciário. “Ora, se não podem atuar com suas responsabilidades, os vereadores deveriam entregar o cargo” – afirma Fabiola Bianchini.
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Festa marcada por suspeitas
A Exposição Agropecuária de Cordeiro, tradicionalmente atraindo milhares de pessoas, está envolta em suspeitas de corrupção desde 2022. Segundo o MPRJ, licitações teriam sido manipuladas para favorecer grupos ligados ao prefeito. Em 2024, a Justiça chegou a suspender o evento devido a irregularidades e riscos à segurança. Em 2025, embora realizado formalmente dentro da lei, o evento ainda sofre com repercussão negativa.
Além do vereador Matheus Mattos, o prefeito Leonan Melhorance e dois empresários também são réus no processo que apura um suposto esquema de corrupção entre 2022 e 2024. Segundo o Ministério Público, foram identificados indícios de favorecimento, simulação de concorrência e revezamento de empresas com vínculos entre si, supostamente com a anuência do prefeito, que responde à ação por improbidade administrativa.
MPRJ denuncia suposto esquema de corrupção em licitações da Expo Cordeiro
Descrédito público
Na Câmara, a Comissão de Ética e Decoro Parlamentar absolveu Matheus Mattos alegando “falta de provas”. Segundo Bianchini, o processo foi marcado por falta de transparência, lentidão seletiva e descumprimento de prazos legais, contrastando com a decisão judicial que afastou o vereador com base em provas concretas.
A postura do Legislativo reforça o descrédito da população em relação à Casa de Leis, transformando-a em sinônimo de conivência e omissão. Mais do que uma crise política, Cordeiro enfrenta um modelo de gestão em que o interesse público fica em segundo plano, enquanto prevalecem acordos políticos e a proteção de aliados.
Pedidos de esclarecimentos foram enviados à Câmara de Cordeiro, sem retorno até o momento. O vereador Matheus Mattos também foi contatado desde que surgiram os escândalos envolvendo seu nome; a mensagem foi visualizada, mas não houve resposta. Questionamentos similares foram encaminhados à Ascom da Prefeitura, sobre processos envolvendo o prefeito, mas também não foram respondidos.
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