Madalenense Elci de Moraes completa 93 anos de vida no campo

Reportagem especial – A região de Santa Maria Madalena e municípios vizinhos celebra, nesta sexta-feira (28/11), a vida de um dos mais respeitados produtores rurais do interior fluminense: Elci de Moraes, que completa 93 anos mantendo a lucidez, a firmeza e a simplicidade que o tornaram referência de caráter e dedicação ao trabalho no campo.

Natural da localidade de Barra do Peixe, próximo a Santa Bárbara, Seu Elci nasceu em 1932, filho de Romualdo de Moraes Lima e Isabel Teixeira de Moraes. Casado há décadas com Maria Araújo de Moraes, 87 anos, construiu uma família marcada por união e valores sólidos. Juntos tiveram três filhos: Ismar, Joyce e Eucimar (in memoriam), falecido aos 50 anos.

Há 56 anos, Seu Elci é proprietário da Fazenda Mutum, em Cambiasca, 5º distrito de São Fidélis. Também mantém atividades produtivas no Sossego, 5º distrito de Santa Maria Madalena, e em Ponte Faria, 3º distrito de São Sebastião do Alto. Sua trajetória resume a essência da vida rural brasileira: trabalho incansável, fé, resistência e profunda ligação com a terra.

Memória viva do interior

Mesmo aos 93 anos, Seu Elci impressiona pela lucidez ao recordar os tempos antigos e as mudanças no modo de viver no campo.

“Desde menino trabalho na roça. A juventude da gente era puxada. Eu chegava do forró de madrugada, trocava de roupa e ia tirar leite. Ressaca se curava trabalhando”, conta, em tom bem-humorado.

As tradições religiosas marcaram sua infância, especialmente as ladainhas, que reuniam famílias e vizinhos. “Era broa, queijo da roça, cafezinho. Hoje isso mudou. Antes a gente se visitava mais”, lamenta.

A Folia de Reis ocupa um lugar especial em sua memória. Seu pai, diz ele, era “campeão de folia”. “No dia 20 de janeiro eram várias folias. Cresci nisso. Gosto até hoje. Mas a modernidade está acabando com essas coisas. A sociedade vai deixando de lado uma essência que a gente tinha.”

 

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O produtor que não para

A vitalidade de Seu Elci é admirável. Mesmo perto de completar um século de vida, segue ativo na produção de milho, feijão, aipim, cana, leite, café e queijo — este último bastante procurado na região.

“O queijo é tradição de família. Às vezes pedem mais do que eu posso fazer. Não dou conta de vender tudo”, comenta, rindo.

Ele também é um dos fundadores da cooperativa criada em 2003 por produtores locais, da qual foi presidente por três mandatos.

“Hoje está tudo organizado, registrado. Mandamos o leite para a Cooperativa de Macuco”, afirma com orgulho.

Sua visão sobre o campo é direta: “A cidade não vive sem o campo. As famílias precisam comer. A comida sai da roça.”

Conselho aos jovens

Com quase um século de vivência, Seu Elci reforça a importância da educação e do apoio público ao produtor rural.

“Tem que estudar. Precisa de incentivo dos governos para trabalhar. Os governos falham muito, mas a gente segue junto. Tocando em frente.”

Questionado sobre o essencial da vida, responde com sabedoria simples:

“Viver bem! Não adianta viver muito e viver mal. Eu estou bem, graças a Deus. E digo outra coisa: não tenho inimigos, só amigos.”

Um homem realizado

Com emoção, Seu Elci reflete sobre sua própria trajetória:

“Minha infância foi dura, mas valeu a pena. Eu não tive estudo, mas meus filhos tiveram. Isso pra mim e para minha esposa foi uma grande vitória. Sou um homem realizado e feliz.”

Ele também fez questão de agradecer ao repórter responsável pela entrevista:

“Obrigado, Nestor, pela atenção e carinho com a nossa gente da roça. É raro alguém valorizar o produtor. Eu agradeço sua presença.”

Um legado para o interior

A vida de Elci de Moraes ultrapassa a história de um agricultor. Representa um Brasil resistente, honesto e humano — o Brasil que sustenta cidades, preserva tradições e inspira pelo exemplo. Seu Elci simboliza a força do interior, que vive do trabalho, da fé e da simplicidade.

Parabéns, Seu Elci, pelos seus 93 anos. Que sua história continue ecoando como um hino de força, humildade e sabedoria para as novas gerações.