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Polícia Federal desmantela esquema de fraudes em concursos públicos

Uma operação da Polícia Federal (PF), deflagrada na última semana, revelou um sofisticado esquema de fraudes em concursos públicos que atuava como uma espécie de “empresa familiar”. Segundo as investigações, o grupo cobrava até R$ 500 mil por vaga e utilizava recursos tecnológicos avançados para burlar os sistemas de segurança das bancas examinadoras.

De acordo com a PF, o esquema operava principalmente a partir do município de Patos, no Sertão da Paraíba, e utilizava dublês, pontos eletrônicos implantados cirurgicamente e comunicação em tempo real durante as provas. As investigações indicam que a organização criminosa atuava há mais de dez anos, comercializando aprovações em diversos certames nacionais.

Entre os concursos supostamente fraudados estão os da Polícia Federal, Caixa Econômica Federal, Polícias Civil e Militar, Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Banco do Brasil e o Concurso Nacional Unificado (CNU). Os valores exigidos variavam conforme o cargo e o grau de dificuldade do concurso. Além de dinheiro, os criminosos aceitavam pagamentos em ouro, veículos e até serviços odontológicos.

Fraudes e estrutura do grupo

O relatório policial aponta que o grupo contava com o envolvimento de familiares e outros colaboradores, com divisão clara de funções, desde a negociação com candidatos até a distribuição de gabaritos. A estrutura envolvia técnicos especializados em informática, profissionais da saúde e intermediários locais, responsáveis por captar candidatos interessados no esquema.

Uma das provas mais contundentes reunidas pelos investigadores é a análise dos gabaritos do CNU 2024, em que quatro candidatos apresentaram respostas idênticas, inclusive nos erros — mesmo tendo realizado provas de tipos diferentes. O laudo técnico indicou que a probabilidade de tal coincidência ocorrer de forma aleatória seria equivalente a ganhar o prêmio máximo da Mega-Sena quase vinte vezes seguidas.

Pagamentos e lavagem de dinheiro

As apurações revelaram movimentações financeiras incompatíveis com a renda dos suspeitos, além de depósitos em espécie e uso de “laranjas” para disfarçar o recebimento de propinas. O grupo também teria utilizado a compra e venda fictícia de imóveis e veículos para mascarar os valores recebidos. Em um dos episódios, parte do pagamento por uma vaga na Caixa Econômica Federal teria sido feita por meio da compra de uma motocicleta registrada em nome de terceiros.

Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF) identificou depósitos que somam centenas de milhares de reais, sem origem comprovada. A Polícia Federal e o Ministério Público Federal solicitaram medidas cautelares, como prisão preventiva, busca e apreensão e suspensão de posse de cargos públicos.

Operação “Última Fase”

A ação, batizada de Operação Última Fase, foi deflagrada no dia 2 de outubro e resultou em prisões preventivas e mandados de busca e apreensão em diferentes estados. As autoridades destacaram que o objetivo foi impedir que os suspeitos tomassem posse em cargos obtidos de forma irregular.

Até o momento, não há indícios de envolvimento direto das bancas organizadoras dos concursos. Contudo, a PF apura possíveis conexões com servidores públicos, profissionais de saúde e intermediários que possam ter facilitado o esquema.

Novas medidas de segurança

Após a operação, o Ministério da Gestão e Inovação em Serviços Públicos (MGI) informou que acompanha e apoia as investigações, além de reforçar os protocolos de segurança nos concursos federais. Entre as novas medidas adotadas no CNU 2025 estão:

  • Provas com códigos de barras personalizados para cada candidato;

  • Divulgação do tipo de prova apenas junto com os gabaritos;

  • Detectores de metal em salas e banheiros;

  • Equipamentos para identificar pontos eletrônicos sob orientação da PF;

  • Atuação ampliada das forças de segurança na escolta e guarda das provas.

O MGI e o Ministério da Justiça e Segurança Pública afirmaram que continuarão colaborando com as investigações e adotando medidas administrativas cabíveis.

A Polícia Federal segue investigando a participação de outros suspeitos e o possível envolvimento de candidatos que teriam se beneficiado do esquema entre os anos de 2015 e 2025.

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