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Brasileiro deverá trabalhar até junho só para pagar impostos em 2026

O brasileiro deverá trabalhar até o início de junho apenas para pagar impostos em 2026. A estimativa tem como base cálculos e projeções elaboradas a partir dos dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), que mede anualmente o peso dos tributos sobre renda, consumo e patrimônio no país.

Segundo o IBPT, em 2025, o trabalhador brasileiro precisou dedicar 149 dias do ano exclusivamente ao pagamento de tributos, alcançando o chamado “Dia da Liberdade Tributária” em 29 de maio. Para 2026, embora o instituto ainda não tenha divulgado um levantamento oficial, projeções baseadas na manutenção da carga tributária elevada e nas mudanças previstas com a reforma tributária indicam que esse número pode subir para cerca de 153 dias, empurrando a data para 3 de junho.

Essas estimativas consideram uma carga tributária média que já representa 40,82% do rendimento do brasileiro, quando somados impostos sobre renda, patrimônio e consumo. Na prática, isso significa que quase seis meses de trabalho seriam destinados apenas ao pagamento de tributos.

O Brasil está entre os países que mais arrecadam impostos no mundo, mas enfrenta um problema estrutural conhecido como “paradoxo brasileiro”: tributos elevados, retorno social baixo e uma burocracia fiscal considerada excessiva. O resultado é uma população que paga caro, mas não percebe serviços públicos compatíveis com o volume arrecadado.

Indicadores como o IRBES (Índice de Retorno de Bem-Estar à Sociedade) reforçam esse diagnóstico. Mesmo figurando entre as nações de maior carga tributária, o Brasil aparece nas últimas posições em retorno social, evidenciando que o dinheiro arrecadado não se converte, na mesma proporção, em qualidade de vida para o cidadão.

Outro fator que agrava o cenário é a complexidade do sistema. Estimativas amplamente citadas em relatórios internacionais apontam que empresas brasileiras gastam cerca de 2.000 horas por ano apenas para cumprir obrigações fiscais. Em países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), essa média costuma ficar abaixo de 200 horas, o que evidencia o peso burocrático que encarece produtos, serviços e reduz a competitividade.

A preocupação aumenta com a implementação da reforma tributária. Projeções divulgadas ao longo de 2025 indicam que a alíquota padrão do novo IVA brasileiro, formado pela CBS e pelo IBS, pode se aproximar de 28%, patamar que colocaria o país entre os maiores impostos sobre consumo do mundo.

O novo modelo foi instituído pela Lei Complementar nº 214/2025, que prevê 2026 como um ano de transição, com alíquotas simbólicas e foco na adaptação dos sistemas. Especialistas alertam, porém, que o número de exceções e regimes especiais pode pressionar a alíquota final, elevando ainda mais o peso dos impostos no Brasil para o contribuinte.

Desde que Lula assumiu a Presidência, em 2023, o Brasil passou a registrar a maior arrecadação de impostos da história, com R$ 2,65 trilhões, após ao menos 30 medidas de aumento ou retomada de tributos. Ainda assim, o país continua operando com déficit nas contas públicas, estimado em cerca de R$ 75 bilhões.

Os efeitos desse ambiente fiscal já são sentidos fora do país. Análises publicadas pela imprensa do Paraguai apontam que a política tributária brasileira tem incentivado a migração de pessoas e empresas. Em 2025, 22 mil brasileiros solicitaram residência no país vizinho, movimento associado à busca por menor carga tributária e ambiente de negócios mais simples.

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