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Centenário da ExpoCordeiro: história da primeira Exposição Agropecuária de Cordeiro

A partir o terceiro quartel do século 19, os produtores rurais da região serrana fluminense vão substituindo progressivamente o café pelo gado em seus tratos de terra. Igualmente começam a se preocupar com a seleção das raças, na escolha de matrizes, na formação de pastagens com gramíneas nutritivas, com o registro de linhagens objetivando o aprimoramento genético e com a vacinação periódica.

As raças existentes no Brasil como a caracu, a mocha, a curraleira e a crioula eram basicamente as mesmas que os portugueses haviam trazido para o Brasil-Colônia. Foi somente com a introdução do Zebu, raça bovina originária da Índia nas variedades Guzerá e Nelore, que o rebanho nacional se transforma ganhando qualidade.

O Zebu é um gado extremamente fecundo e precoce em seu desenvolvimento, de grande rusticidade, prospera em qualquer pastagem, resiste facilmente as epizootias e é quase refratário a tuberculose, o que não acontece com o gado europeu. Produzia um leite muito gordo. Enquanto se empregavam 22 litros de leite de vacas europeias na fabricação de um quilo de manteiga, bastavam para idêntica produção 17 litros de vacas zebuínas.

Em 1870, Elias Antônio de Moraes, o segundo Barão das Duas Barras toma a iniciativa de importar reprodutores Zebus. Os primeiros lotes foram exemplares da raça Guzerá criado na Fazenda Ribeirão Dourado, em Macuco, que logo se expandiu para outras propriedades da região. O mesmo ocorreu com Manoel Ubelhard Lemgruber em 1878, comprando raças Ongole da Índia.

Foi na Fazenda Santo Antônio de Sapucaia, no Carmo, que desenvolveu a criação iniciando uma prole que seria conhecida como Nelore Lemgruber. Júlio César Lutterbach na Fazenda da Glória e Sebastião Monnerat Luterbach na Fazenda Santana, seguem o exemplo de Manoel Lemgruber, se dedicando a criação do Zebu. O Nelore se difundiu muito no Triângulo Mineiro, Goiás e Mato Grosso. Já o Guzerá teve a preferência dos cantagalenses e a baronesa de São Clemente desenvolveu na Fazenda Areias uma raça quase pura.

No entanto, quem mais se destacou na criação do Guzerá foi João de Abreu Junior. Na Fazenda Itaoca, em Boa Sorte possuía um numeroso plantel deste gado e ganhava o primeiro lugar nas competições agropecuárias que participava. Seu touro de nome Pavilhão com 1.050 quilos, recorde que levou mais de 50 anos para ser batido, tinha um retrato no cinema de Cantagalo, orgulho da pecuária local.

O gado de João de Abreu projetou novamente Cantagalo por todo o país como fizera o café durante o Império. Planejando as efemérides do centenário da Independência, os pecuaristas decidiram realizar em Cordeiro, terceiro distrito de Cantagalo, uma Exposição de Gado e Produtos Derivados para que servisse de preparação para a exposição no Rio de Janeiro, comemorativa da independência. Foi destinada uma área de 55.700 m² para o evento composta por seis pavilhões em forma de chalé para abrigar os animais a serem expostos, um coreto para a banda de música, pista para o desfile dos animais, entre outras benfeitorias.

Exposição Agropecuária

expo cordeiro
Foto: Arquivo pessoal/Janaína Botelho

No dia 04 de maio de 1921, sessenta e um expositores de vários municípios fluminenses participaram da Primeira Exposição Agropecuária e Industrial de Cordeiro com 508 animais de diferentes espécies, dos quais 401 de grande porte com 370 bovinos e 33 equinos. Na relação dos bovinos não figurava ainda a raça Gir que ocuparia no futuro lugar de relevo no gado da região. Predominava na exposição as raças indianas Guzerá e Nelore em sua maioria pertencentes aos pecuaristas João de Abreu Junior e aos coronéis Júlio César e Sebastião Luterbach.

Este evento foi prestigiado pelo presidente da República Epitácio da Silva Pessoa e pelo presidente do Estado Raul Veiga. A segunda edição da exposição ocorreria apenas no ano de 1924, cujo resultado foi a criação de um posto de monta, um grande benefício na época. Vinte e um anos depois, no ano de 1943, ocorreria nova exposição contando com a presença do presidente Getúlio Vargas e do interventor do Estado Ernâni do Amaral Peixoto.

Vista panorâmica do Parque de Exposições de Cordeiro em 1921 com seus magníficos pavilhões de madeira. É o parque mais antigo do Brasil.
Vista panorâmica do Parque de Exposições de Cordeiro em 1921 com seus magníficos pavilhões de madeira. É o parque mais antigo do Brasil.

Na realidade, a mídia considerou este evento como a segunda exposição. Participaram os municípios de Cantagalo, Itaocara, Nova Friburgo, Carmo, Sumidouro, São Sebastião do Alto, Santa Maria Madalena, Trajano de Morais, Bom Jardim e Duas Barras. Quem tomou parte desta exposição foram as famílias Spinelli e Raul Sertã.

O plantel da Granja Spinelli era formado pelo gado Guernsey. Já o friburguense José Pires Barroso ganhou o primeiro lugar em apicultura e vários outros friburguenses foram premiados tanto nesta modalidade como na de sericicultura. Porém, com a emancipação do distrito de Cordeiro no ano de 1943, que ganha o predicado de município, a exposição fica sob a sua administração, o que não deve ter agradado em nada os cantagalenses.

Expo-Cordeiro

Nas últimas décadas a Exposição Agropecuária de Cordeiro com exposições de animais e produtos da agropecuária do Estado, passou a ser moldada e foi transformada no que é hoje a Exposição Agropecuária, Comercial e Industrial de Cordeiro (a popular Expo Cordeiro), um evento com bailes, atrações musicais, exposições diversas, além de continuar sendo um espaço de negócios para os pecuaristas.

Desde sua primeira edição, em 1921, a Exposição Agropecuária se tornou um marco para Cordeiro, que é conhecida em muitas regiões pela realização daquela que é sua maior festa e se tornou também sua marca registrada, atraindo produtores rurais, industriários, comerciantes, empresários e visitantes de todo país.

Sancionada pelo governador em exercício Francisco Dornelles no dia 25 de maio, a Lei Estadual 7.285/2016 conferiu ao município de Cordeiro o título de Cidade Exposição. A iniciativa partiu de um projeto de lei do deputado estadual Thiago Pampolha e a lei definitiva foi publicada na edição do dia 30 de maio do Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro.

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Pandemia

Devido a pandemia global do coronavírus, a Expo Cordeiro precisou ser paralisada nos anos de 2020 e 2021. O último edital para convocação de atrações e equipamentos para o evento tinha previsão de ocorrer em 2020, pois o recebimento dos envelopes de documentação e propostas de preços ocorreu no dia 27 de dezembro de 2019. Esperamos que isso tudo que estamos vivenciando passe o mais rápido possível, para que possamos desfrutar desse maravilhoso evento na ‘cidade exposição’.

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