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Macuco é a única cidade do RJ com candidatura única nas eleições 2020

Macuco é a única cidade do RJ com candidatura única nas eleições 2020

Quem nasce em Macuco, um pequeno município quase escondido entre os grandes da Região Serrana do Rio, é chamado macuquense. Mas o gentílico só vale na teoria. Na prática, os moradores da cidade, são chamados “filhos de Macuco”. Como se a cidadezinha abraçasse maternalmente cada um de seus 5,2 mil habitantes. E se o ditado diz que em coração de mãe sempre cabe mais um, novamente a realidade local é outra: o órgão mais vital para a população, a prefeitura, hoje comporta as propostas de um homem só.

Bruno Boaretto (PL) é o único candidato interessado em ser prefeito de Macuco nas eleições 2020, sendo candidatura única. Ele está no cargo desde 2016 e busca a reeleição, praticamente garantida pela ausência de adversários. A situação é a mesma em 106 municípios do país onde apenas um candidato disputa a preferência do eleitor e, sem concorrência, deve arrebatá-la independentemente da qualidade de suas propostas e alianças. Somente no Rio Grande do Sul, há 32 cidades nesta situação. São eleições em que o contraditório não sobe no palanque.

Em Macuco, única cidade do Rio com uma candidatura única, o sumiço da discordância já virou folclore. Antes de Boaretto, a cidade, emancipada de Cordeiro há apenas 24 anos, teve só três ex-prefeitos e dois deles foram assassinados após deixarem o cargo: Maurício Bittencourt (PP), em 2006, e Rogério Bianchini (PMDB), em 2015. O único ex-prefeito vivo é Félix Lengruber (MDB), que abandonou a política há quatro anos, sem sequer tentar a reeleição.

Esses casos de polícia são o pano de fundo de frases repetidas como crendices pelos moradores, quando o assunto é a política municipal. Dizem que, por lá, é perigoso fazer sucesso nas urnas, porque “eles” podem acabar se incomodando — uma entidade quase abstrata, já que nunca se provou quem foram os mandantes dos crimes. Ninguém arrisca publicamente um palpite:

— Macuco é uma cidade onde não se pode dar nome aos bois — diz uma cuidadora de idosos que pede para não ser identificada.

Histórico conturbado

Essas falas, justifica o prefeito, são reflexos de um passado conturbado. Boaretto conta que desde 2015, quando Bianchini foi morto com cinco tiros, Macuco não assistiu a mais nenhum assassinato e, hoje, é um lugar pacato.

— Pela primeira vez estamos chegando numa eleição com um ex-prefeito vivo — afirmou Boaretto, procurando razões para “solidão” no pleito que se aproxima: — Não pensava em reeleição. Mas acho que a população enxergou nossos resultados e os adversários também.

A aura de tranquilidade é real e permite que bicicletas sejam estacionadas nas esquinas, sem cadeados, e permaneçam intocadas. O mesmo ocorre com os carros, cujas janelas ficam abertas enquanto os donos estão distantes. Há calmaria para conversas na praça e nos balcões do comércio, onde o assunto quase sempre é alguma fofoca de Macuco. A cidade tem duas máximas: lá, todo mundo se conhece e quase não há família que não tenha ligações com a política ou com a cooperativa de leite. O serviço público, com cargos para cerca de 12% dos habitantes, é uma das principais fontes de renda e emprego, assim como a indústria do laticínio e o comércio varejista.

Dona de uma loja de roupas íntimas, Devanir Cuco, de 65 anos, tem dois primos que são candidatos às nove vagas da Câmara de Vereadores este ano, razão pela qual ela própria não se candidatou. Também é irmã da Secretária de Cultura do município. A família, cujo sobrenome repete a sonoridade de Macuco, é bastante favorável à reeleição de Boaretto.

— Enquanto Deus me der voz, vou falar sem medo sobre a política de Macuco. E quero ser candidata um dia — contou Devanir, pouco após mostrar no celular o jingle do candidato só: — Somos amigos. Gosto do trabalho dele e vou votar. Não acho que Macuco precisa de outro candidato este ano.

Fonte: O Globo

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