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Irmãos Mello, referência em birdwatching e fotografia de aves

Irmãos Mello, referência em birdwatching e fotografia de aves

Na coluna de hoje trazemos o resultado de uma entrevista com uma dupla que é referência quando o assunto é ave e observação no Rio de Janeiro e Sudeste: os irmãos Mello. Os gêmeos Daniel, que mora em Queimados (R.J), e Gabriel, que mora na cidade do Rio de Janeiro, acabaram de publicar um guia de campo sobre o assunto: Aves do Sudeste do Brasil, Guia de Identificação: Gabriel Mello e Daniel Mello, 2020.

Os irmãos, formados em Educação Artística pela Escola de Belas Artes da UFRJ, contam que enquanto participavam de um projeto de pesquisa durante a graduação, a história de observadores e fotógrafos de aves surgiu quase por acaso, quando realizavam algumas entrevistas com artistas e carnavalescos. Um dia, resolveram pegar emprestado o equipamento do projeto (uma câmera Canon mini-dv com um zoom razoável – que era do professor coordenador do projeto) para filmar as aves no condomínio onde moram seus avós, em Guapimirim, R.J. que fica ao pé da Serra dos Órgãos. A partir daí, como eles mesmos dizem, foram “picados pelo mosquitinho da observação de aves”.

Segundo os irmãos Mello, a família sempre os incentivou e eles são gratos por isso. Os equipamentos necessários à observação de aves foram adquiridos aos poucos, enquanto mantinham o foco em suas maiores inspirações, como os fotógrafos João Quental, Edson Endrigo, Luis Florit, Gustavo Pedro de Paula, Luiz Ribenboim, referências na fotografia de aves no Brasil, quando começaram há 13 anos.

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Alguns resultados dessa paixão por aves podem ser conhecidos nos guias de observação lançados por eles. O primeiro foi resultado da observação de aves na Serra dos Órgãos (Aves da Serra dos Órgãos e Adjacências). A partir daí perceberam que poderiam ser mais abrangentes, pois muitas das pessoas que adquiriam o livro eram de outras regiões do Sudeste. Além dos observadores do Rio de Janeiro, os de São Paulo e Minas Gerais também mostraram interesse no trabalho dos irmãos Mello’s. Eles perceberam que além do conteúdo informativo, o formato, a diagramação e qualidade das fotos eram atrativos para o público. A partir daí, entenderam que havia potencial para ampliar o projeto, mantendo a mesma ideia, mas com a cobertura de uma maior área geográfica, indo além dos limites da mata Atlântica, foco do primeiro guia.

Além de serem autores dos guias citados e observadores, Gabriel e Daniel (que acabou se formando em guia de turismo e abrindo novas portas) são guias na própria empresa, “Irmãos Mello Birding Tours”, que atua conduzindo pessoas para fotografar e observar aves na Serra dos Órgãos e na Floresta da Tijuca, no coração da cidade do Rio de Janeiro – um lugar de fácil acesso e muito rico, pois permite observar diversas espécies em um único passeio por uma manhã (com a possibilidade de observar espécies endêmicas). Outra motivação da dupla de guiarem pela Floresta da Tijuca, é a possibilidade de evidenciarem a importância dessa floresta na preservação de aves que hoje são ameaçadas de extinção, como o gavião-pombo-pequeno e o apuim-de-costas-pretas, que lá ocorrem. Nos últimos três ou quatro anos os irmãos tem aumentado a dedicação à empresa, investindo em equipamentos como veículo 4×4, binóculos extras e outros itens que permitem atender a um público maior, com mais eficiência e segurança.

Os irmãos Mello’s também são professores da rede pública, nas séries do Ensino Fundamental. Mas engana-se quem imagina serem de professores de Biologia. Com a formação em Artes, os dois são professores de Educação Artística (Artes Visuais e Desenho). Mas, segundo eles, o lado passarinheiro acaba entrando um pouco na sala de aula já que muitos alunos, sabendo dessa área de atuação dos professores, acabam desenvolvendo projetos envolvendo educação ambiental e observação de aves, além da Educação Artística. Como eles dizem, as áreas acabam se mesclando quando em “visitas a algum parque (…) levamos binóculos e luneta para os alunos observarem, ou então projetos de ilustração científica onde os alunos aprendem a desenhar animais de maneira mais técnica”. Além disso, os irmãos também realizam palestras em algumas escolas, ou atuam em projetos pedagógicos, falando especificamente sobre birdwatching ou fotografia de natureza.

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Por serem autores de guias de observação, muitos acham que eles já clicaram todas as espécies do sudeste. Mas isso ainda não é verdade: existem aves que nunca foram avistadas por eles, algumas bem difíceis de serem encontradas. Por isso, para finalizarem o guia recentemente lançado, contaram com a contribuição de diversos amigos fotógrafos que os cederam imagens de algumas espécies que são mais raras ou difíceis de serem fotografadas. Entre elas, podemos citar alguns gaviões como o tauató-pintado, gavião-miudinho e uiraçu. Uma das aves do Sudeste que ainda desejam conseguir fotografar é o tiê-de-coroa (desejo de quase todo fotógrafo de aves), que foi visto pela última vez em 1996, e é a mais rara do mundo. Alguns dizem, inclusive, que pode estar extinta, mas, apesar de muita discussão, não se tem uma conclusão final sobre isso.

Como dizem os irmãos sobre essa ave, ”quem conseguir, vai entrar para o hall da fama da Ornitologia mundial”. Para eles, uma das aves mais difíceis de fotografar foi a saudade-de-asa-cinza, que só ocorre em áreas específicas de mata altimontana na Serra dos Órgãos e, que ainda por cima, não se aparece com facilidade. Ela é uma espécie que muitos fotógrafos almejam. Outra espécie difícil de fazer uma boa foto, mas que eles tiveram o prazer de conseguir, foi o formigueiro-do-litoral, que é endêmica do Estado do Rio de Janeiro, ocorrendo em alguns pontos específicos da Região dos Lagos.

Apesar de isso tudo parece muito legal na teoria, ainda existem muitas dificuldades para se iniciar, e talvez manter-se nesta área. Perguntados sobre isso, os irmão disseram que “talvez hoje o maior desafio seja a pessoa ter condições de realizar essa atividade, ou seja, ter tempo e principalmente dinheiro para investir em equipamentos, viagens etc. Quando começamos já não era barato adquirir uma boa câmera ou lente, por exemplo. Mas os valores hoje por conta da alta do dólar estão surreais“.

Perguntados sobre o que mais os atrai nesse tema, fechamos nossa coluna com as palavras dos irmãos Mello: “A beleza e a grande variedade de formas, cores e sons. Aves são encantadoras e ao mesmo tempo não é tão difícil fotografá-las, pois em qualquer lugar é possível encontrá-las.”.

Para conhecer o trabalho dos Irmãos Mello’s, basta acessar o site www.irmaosmello.com.br .

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